sexta-feira, 1 de abril de 2016

Despejo cruel de 84 famílias que há 18 anos ocupavam, viviam e produziam na fazenda Marilândia, em Manga no Norte de MG: injustiça, violência agrária, inconstitucionalidade, um rio de lágrimas às margens do Velho Chico. Nota da CPT/MG

Despejo cruel de 84 famílias que há 18 anos ocupavam, viviam e produziam na fazenda Marilândia, em Manga no Norte de MG: injustiça, violência agrária, inconstitucionalidade, um rio de lágrimas às margens do Velho Chico.
Nota da CPT/MG - Belo Horizonte, 01/04/2016.

REPRESENTAÇÃO-DENÚNCIA à:     
1)   Ouvidoria Agrária Nacional e Comissão Nacional de Combate à violência no Campo: Desembargador Dr. Gercino José da Silva Filho;
2)   Ministério Público de MG área de conflitos agrários: Procurador Dr. Afonso Henrique de Miranda;
3)   Defensoria Pública de MG área de Direitos Humanos e conflitos agrários: Dra. Ana Cláudia Alexandre;
4)   Secretarias Nacional e Estadual de Direitos Humanos: Dep. Dr. Nilmário Miranda e Profa. Dra. Nilma Lino Gomes;
5)   INCRA nacional e INCRA/MG: Superintendente Dr. Gilson Souza e Dra. Maria Lúcia Falcón;
6)   Comissões de Direitos Humanos da OAB/MG e da Assembleia Legislativa de MG: Dr. Wiliam Santos e deputado Cristiano Silveira;
7)   E todas as autoridades implicadas, Movimentos sociais, imprensa e pessoas de boa vontade.            

Dias 29 e 30 de março de 2016, a Vara Agrária de MG/TJMG, o Governo de Minas Gerais (do PT), a PM/MG, o INCRA, por omissão, o filho do antigo proprietário, Aulos Dias Thales, e os representantes do atual proprietário dono da Rede de Supermercado BH (latifúndio na cidade e no campo), senhores Ivanilton Ferreira Mota, gerente, e o advogado Roberto Lima Neves despejaram pela 11ª vez, de forma injusta e inconstitucional, 84 famílias Sem Terra que há 18 anos ocupavam a Fazenda Marilândia, no município de Manga, no Norte de Minas. Um latifúndio de 2.212 hectares com sérios indícios de grilagem de terra, indícios graves de ser terra devoluta, terra de ausentes e desconhecidos. A Santa Casa teria sido uma das proprietárias da fazenda no passado, indícios de documentação esquentada em cartório. E, latifúndio que não cumpria sua função social.
Eis o número do processo judicial recheado de irregularidades, segundo a defensoria pública de MG: 0024.03.982.125-1. Sem respeitar o que exige o novo Código de Processo Civil: que se faça conciliação prévia antes de se decidir sobre reintegração de posse ou não, sem entabular conciliação na Mesa de Negociação do Governo de MG, o despejo foi feito e sem nenhuma alternativa digna. Simplesmente derrubaram as casas e barracos e jogaram as famílias na rua, no ar. O Governo de MG e PM/MG, com um mega aparato de força militar – cerca de 100 policiais fortemente armados, com tratores, caminhões, carro pipa, caçamba, carreta de boi, ambulância, corpo de bombeiro, micro ônibus e muitas viaturas etc – se colocou a serviço do latifúndio e mostrou o Estado opressor.
As 84 famílias da Baixa Funda, na fazenda Marilândia, já produziram muito na fazenda ocupada nos últimos 18 anos. Mais de cem hectares de plantações estão na fazenda agora. Os Sem Terra terão o direito de fazer a colheita? As 84 famílias sofreram o 11º despejo. Sempre, após os despejos, as famílias reocuparam a fazenda. Sem audiência de conciliação na área do conflito agrário, a Vara Agrária de Minas determinou o 11º despejo, mesmo sabendo que o pretenso proprietário, Thales Dias Chaves, tinha vendido a fazenda para Antônio Taco ou Válter Arantes (o Valtinho), que é dono da Rede de Supermercados BH e que já comprou, segundo notícias correntes na região, mais de 50 fazendas na região Norte de Minas. Só no município de Manga o Supermercado BH tem três grandes fazendas às margens do Velho Chico.
Na área ocupada, as famílias têm plantações de mandioca, melancia, feijão, milho, feijão guandu, frutas, e criação de pequenos animais – porcos e galinhas – e animais para o transporte dos produtos e das pessoas em carroças. Dezenas de barracos de lonas e pau a pic e casas de alvenaria foram derrubadas, além de caixas d’água instaladas pelo Programa de políticas públicas e outras construídas pelas próprias famílias. Os depoimentos das pessoas despejadas são estarrecedores. Lágrimas e mais lágrimas. As mães desesperadas e amedrontadas pediam misericórdia. Muitos ouviram o oficial de justiça dizer que era somente para retirar as famílias e os seus pertences, mas não era para derrubar os barracos e as casas. Mas, os policiais, o gerente da fazenda e o advogado do atual suposto proprietário mandavam os tratoristas derrubarem uma a uma. Em um dos 2 vídeos anexos, se vê e se ouve um policial militar dar ordens ao tratorista para derrubar uma casa. Isso não é crime?

Por que o Governo de Minas respeitou o MST no Sul de MG que ocupa há 18 anos e desapropriou o latifúndio da ex-usina Ariadnópolis e mandou despejar 84 famílias em Manga que também ocupam há 18 anos? É o poder econômico da Rede de supermercado BH que está falando mais alto?
Em outubro de 2015, o atual dono da fazenda, Valtinho do Supermercado BH, cometeu gravíssimo crime ambiental ao derrubar/devastar uma grande área de Mata que ainda (r)existia para plantar capim. Com tratores devastaram inclusive madeira de lei: aroeira, braúna, sucupira e outros tipos de madeira nobre. As famílias foram ameaçadas várias vezes pelo atual gerente da fazenda. Casas das famílias acampadas foram queimadas e destruídas nos últimos meses. O que fizeram o promotor do Ministério Público da comarca de Manga, o IEF e a polícia ambiental diante do crime ambiental, das ameaças e das casas que foram queimadas e plantações que foram destruídas? Cumprir a função social da propriedade é devastar tudo e expulsar inclusive os animais e pássaros para a cidade e para morrer na estrada ao lado?
Com o consentimento do oficial de justiça Antônio Dourado, o acampado Josemar Silva dos Santos foi buscar uma carroça para tentar salvar os utensílios que estavam no barraco, mas quando voltou com a carroça, a mando de policiais, com um trator já tinha derrubado a casa dele. Destruíram tudo: as panelas, cuia, lata d’água, inclusive o pouco de alimento que havia no barraco. Tudo foi transformado em entulho. No momento da destruição, o oficial de Justiça não se encontrava no local, sendo que o mesmo não autorizou a derrubada dos barracos e casas.
O INCRA foi omisso e cúmplice dessa grande violência que está sendo perpetrada contra 84 famílias, pois poderia ter desapropriado ou comprado a fazenda. Ou, pelo menos, desapropriado outra fazenda próxima do local para acolher as famílias que lutam aguerridamente pela terra há 18 anos. As famílias estão produzindo alimentos que eram vendidos na feira da cidade de Manga. O INCRA sabe que a Fundação Cultural Palmares já expediu certificado atestando que a fazenda Marilândia faz parte do território quilombola das comunidades de Bebedouro, Justa I, Justa II e Brejo de São Caetano.
A Defensoria Pública de MG, através da Dra. Ana Cláudia Alexandre, entrou com várias petições e ofícios alertando para as inúmeras irregularidades que estão no processo e em um despejo sem negociação. Pediu também prazo para negociação. Membro da Mesa de Diálogo e Negociação (funcionário do governo) e um técnico da EMATER que fizeram vistoria técnica da área proposta para as famílias, constataram que as 54 hectares ofertadas para as 84 famílias era terras impróprias para assentamento, além de que pertence a outro proprietário, que chegou no momento e  estranhou quando a  equipe técnica  vistoriava a área. Ou seja, o Governo de MG aceitou uma mentira escabrosa do atual proprietário como simulação de negociação. Mesmo diante dessa mentira criminosa, o governo mandou a polícia para derrubar tudo.
As famílias estão se consolando mutuamente e erguerão a luta. Enganam os que pensam que com repressão se resolve problema social grave. Nos 10 despejos anteriores, o povo se reergueu e reocupou a fazenda.
Exigimos que a fazenda seja desapropriada por crime ambiental, da mesma forma que a Fazenda Nova Alegria, em Felisburgo, foi desapropriada por crime ambiental. Ou que seja desapropriada por ser território quilombola ou por não cumprir a função social da terra.
Exigimos a indenização de todos os prejuízos causados às 84 famílias com o despejo.
 Exigimos que a PM de Manga cumpra sua missão sem se colocar a serviço dos latifundiários, Fato injusto é que todas as ocorrências registradas pelas famílias não tiveram sequência na apuração dos fatos e, em alguns casos, a PM se negou a registrar as ocorrências reivindicadas pelas famílias acampadas.
Como clama o Sr. Wilson, de 73 anos, um dos despejados: “O que queremos é terra, pão e água. Só isso!”
Lutaremos até que a sexta-feira da paixão dos dias 29 e 30/03/2016 se transforme em domingo de ressurreição com terra, pão e água para o povo.

Assina essa Nota,
Comissão Pastoral da Terra – CPT/MG.
Coordenação das 84 famílias despejadas.

Anexo: denúncia do despejo está disponível em dois vídeos nos links

Links para fotos da Ocupação:
2)   Depois do despejo:

Para maiores informações:
Zilah de Mattos cel. (38) 99122 6130
Gilvânia Carvalho cel. (38) 99155 7156




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