segunda-feira, 25 de julho de 2016

Carta da 19ª Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, em Ladainha/MG, no Vale do Muruci, Diocese de Teófilo Otoni, dia 24/07/2016.

Carta da 19ª Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, em Ladainha/MG, no Vale do Muruci, Diocese de Teófilo Otoni, dia 24/07/2016.


Sob a inspiração da Campanha da Fraternidade de 2016 – Nossa Casa Comum, corresponsabilidade de todos - nós, cerca de 10.000 romeiras e romeiros da mãe terra e da irmã água, de várias dioceses do Estado e de todas as paróquias da Diocese de Teófilo Otoni, dia 24 de julho de 2016, dia também de Romaria da terra nos Estado do Rio de Janeiro e São Paulo, participamos da 19ª Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, na cidade de Ladainha, ao lado de uma represa e da Pedra, símbolo da cidade, no Vale do Mucuri, MG, na Diocese de Teófilo Otoni, com o tema: Somos água, somos terra, queremos bem viver; e com o lema: Unir povos do campo e da cidade em defesa das florestas. Terra e água, fonte de vida. Com dança do Vilão, músicas, poesias, causos e participação de Carlos Farias, a Noite Cultural encantou a todos.Dezenas de missionárias/os vindas/os de várias regiões de Minas fizeram uma semana de missão em preparação para a 19ª Romaria em 23 comunidades do município de Ladainha, no campo e na cidade. Fomos muito bem acolhidas/os pela Paróquia do Sagrado Coração de Jesus e pelas comunidades de Ladainha. O bispo dom Aloísio Vitral, da Diocese de Teófilo Otoni, acolheu com alegria e deu todo apoio à preparação e à realização da 19ª Romaria. As comunidades se prepararam para a Romaria fazendo três encontros de reflexão a partir de uma Cartilhacom os temas: 1º) Somos terra e criados para o bem viver; 2º) Água e terra: fonte de vida, direito de todos; e 3º) Bem viver, sonho de todos. As/os missionárias/os voltaram radiantes das missões, porque experimentaram a presença do Deus da vida no meio do povo, ouviram muitas histórias, visitaram centenas de famílias, refletiram e celebraram a fé na luta pela terra e pelas águas. Quanta fé!  Quanta resistência e sabedoria! Hortas nos quintais, piscicultura, produção de doces, dentre tantas belezas culturais. Ladainha, emancipada em 1949, tem 17 mil habitantes, sendo 75% na zona rural; tem 26 escolas municipais, sendo apenas uma nucleada; ainda é um dos municípios com um razoável índice de preservação do Vale do Mucuri, isso porque o que predomina são pequenas e médias propriedades. Mas as missões também revelaram muitos problemas e desafios experimentados pelas comunidades rurais: meios de transporte precário e muito caro para vir à cidade, nascentes e rios secando, muitas pessoas adoecidas sem atendimento, o povocamponês está sofrendo muito, há vários relatos de abandono do poder público, principalmente nas áreas de saúde e no atendimentosos idosos, com poucas oportunidades para geração de renda, comforte migração de jovens para São Paulo (Só em Ubatuba, SP, há 11 mil eleitores nascidos em Ladainha), monocultura de eucalipto, desmatamento e pecuária. Está muito ruim a qualidade da água da COPANOR, que é subsidiária da COPASA. Já fizeram 3 poços artesianos para captar água para 3 comunidades. A represa existente ao lado da cidade de Ladainha, represando o rio Mucuri braço Norte foi desativada pela CEMIG em 2015, porque não tem mais condições de gerar energia por falta de água por causa do grande número de nascentes e rios que secaram na região nos últimos anos. A 19ª Romaria das águas e terra foi promovida pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Diocese de Teófilo Otoni, Paróquia Sagrado Coração de Jesus e Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Ladainha, com apoio da Adveniat, Misereor e da Prefeitura de Ladainha e outros.A 19ª Romaria aconteceu em uma região rica em manifestações da cultura popular, fruto da mistura de diferentes povos: migrantes europeus, árabes, negros e indígenas Maxakali e Mukurin, primeiros habitantes do Vale do Mucuri, que sobrevivem em pequenas aldeias e lutam pelo resgate de seus territórios e participam juntos com várias comunidades de remanescentes quilombolasda luta pela preservação da biodiversidade e da cultura em suas comunidades.A esses povos indígenas se somam também os povos Aranã, Pataxó e Pankararu, que habitam bem próximo, no Vale do Jequitinhonha.Com esses parentes nossos povos indígenas nos ensinam que a terra e as águas são sagradas. A terra é um grande corpo vivo e as águas são seu sangue. Às 06:00h, as romeiras/os foram acolhidas/os na praça do Pontilhão, entrada de Ladainha. Após o café da manhã comunitário, iniciamos a 19ª Romaria com uma caminhada celebrativa com paradas: na entrada da cidade, no novo prédio do Hospital municipal Dr. Arthur Rausch e na Praça da Alegria. Concluímos com um grande ofertório ao povo Maxakali, celebração eucarística e almoço comunitário. Canções de espiritualidade libertadora, tal como “Romaria da terra faz o povo reunir, numa luta sem guerra, lutaremos por ti ...”, denúncias e anúncios de experiências a serem cultivadas animaram nossa 19ª Romaria. Na 19ª Romaria também foram denunciados os golpes aos direitos sociais do povo que estão em curso no Brasil. Repudiamos o golpe parlamentar, da mídia e do judiciário que, sem crime de responsabilidade, arrancou a presidenta Dilma do exercício do seu mandato legitimamente eleita por 54 milhões de eleitores, maioria. Seguiremos na luta contra os golpes que estão sendo dados no povo brasileiro, cientes de que os golpistas parecem gigantes, mas têm pés de barro.Com as bênçãos de N. Sra Aparecida e da Boa Viagem, de São Francisco, do Sagrado Coração de Jesus e das boas energias e experiências da 19ª Romaria, gratos a todas/os que participaram,nos despedimos para sermos romeiras e romeiros da terra e das águas no cotidiano nas nossas comunidades. Comprometemo-nos em continuar na luta coletiva pela terra e pela permanência no campo e pela preservação das águas, porque a terra e as águas são nossa vida e nosso futuro. Até a 20ª Romaria da terra e das águas de Minas em 2017.

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