segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Ocupação dos Carroceiros/BH/MG:Respeito e Negociação, SIM. Despejo, NÃO....







Ocupação
dos/as Carroceiros/as em Belo Horizonte/MG: Respeito e Negociação, SIM.
Despejo, NÃO. 30/12/2018.

Dia 30/12/2018, após
reunião com as famílias da Ocupação dos/as Carroceiros/as de Belo Horizonte,
MG, situada no bairro Tirol, na região do Barreiro, o advogado popular Thales
Viote, do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) e da RENAP (Rede
Nacional de Advogadas e Advogados Populares) coordenou a gravação de uma
reportagem em vídeo. O vídeo 1 dessa reportagem é o que segue aqui.

*Reportagem em vídeo de
Thales Viote, do MLB e da RENAP. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da
CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 30/12/2018.

Para maiores
informações, consulte a Nota Pública no link, abaixo:


* Inscreva-se no You
Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander,
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diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar,
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domingo, 30 de dezembro de 2018

Tributo a Irmã Alberta Girardi, Mãe dos Pobres e dos Direitos Humanos.


Tributo a Irmã Alberta Girardi, Mãe dos Pobres e dos Direitos Humanos.

Reprodução / Divulgação / 100 Nonni

Aos 97 anos, com o símbolo de compromisso com os mais pobres em um dos dedos - anel de tucum -, morreu e ressuscitou na madrugada de hoje, dia 30 de dezembro de 2018, IRMÃ ALBERTA GIRARDI – Dina Girardi era o nome de batismo dela -, verdadeiramente uma MULHER PROFÉTICA que viveu colocando em prática a Opção pelos Pobres. Como integrante da Congregação das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade (ORIONITAS), Irmã Alberta viveu e lutou a vida toda consolando os aflitos e injustiçados e incomodando os opressores.
A irmã Alberta, conhecida por seu vasto trabalho em favor dos mais pobres, dentre eles os trabalhadores rurais sem-terra, os irmãos de rua e as crianças, foi mais uma vez reconhecida por seu trabalho. Após ganhar em 2007 o prêmio Franz de Castro Holzwwarth da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), foi agraciada também com o Prêmio Especial dos Direitos Humanos, concedido durante a Primeira Mostra de Direitos Humanos em São Paulo.
Irmã Alberta Girardi nasceu em Quarto de Altino, Veneza, Itália, no dia 24 de outubro de 1921, um ano antes da ascensão do fascismo em seu país. Chegou ao Brasil em janeiro de 1970, em plena ditadura militar, e foi enviada diretamente à cidade de Araguaína, então estado de Goiás, onde trabalhou até 1986. Trabalhou em uma casa de acolhida para migrantes e logo se deparou com o sofrimento dos posseiros, expulsos da terra concedida com documentos do bispo, de Porto Nacional, por falta de cartório. O projeto da ditadura militar-civil-empresarial era mecanizar o campo. Com esse projeto de mecanização da agricultura, os fazendeiros foram expulsando os pobres violentamente. Diante dessa realidade, da necessidade de defender os pobres do campo, nasceu em 1975 a Comissão Pastoral da Terra (CPT), vinculada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Em 1979, irmã Alberta se envolveu na luta do povo camponês. “Convivi com padre Josimo Moraes Tavares. A realidade imposta pela ditadura era a de que não se devia proteger os pobres e queríamos fazer isso. Fui ameaçada de morte também”, lembra Irmã Alberta. Ela trabalhou com o padre Josimo, muito admirado por ela, até dia 10 de maio de 1986, momento em que ele foi assassinado em Imperatriz, no Maranhão. Padre Josimo, jovem sacerdote com 33 anos de idade, era coordenador da CPT no Bico do Papagaio, um território no estado do Tocantins que abrange 25 municípios. Irmã Alberta foi companheira de Padre Josimo na luta pela terra e em defesa dos camponeses violentados pelo latifúndio e pelos latifundiários. 

Reprodução / Divulgação / 100 Nonni
Irmã Alberta teve que deixar a cidade quando o padre Josimo Tavares, seu companheiro de trabalho pastoral, foi assassinado a mando de cinco fazendeiros. Irmã Alberta havia também sido jurada de morte. Ela se refugiou em Curralinho, no estado do Pará, onde trabalhou durante nove anos. Lá trabalhou em um pequeno hospital, e teve que fazer as vezes de vigário, já que a cidade não contava com pároco, atuando na formação de catequistas, trabalhando nas pastorais da família, dos doentes e da juventude. Posteriormente, trabalhou junto às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) ribeirinhas da Ilha de Marajó, no Pará, e em outras localidades.
Em 1996 foi transferida para São Paulo e continuou contribuindo na Comissão Pastoral da Terra, órgão da CNBB hoje presidida por Dom André, bispo da Diocese de Rui Barbosa, BA. Foi na capital de São Paulo que Irmã Alberta conheceu a Fraternidade Povo de Rua, começando com seus voluntários as visitas feitas durante a noite aos moradores em situação de rua. Foi nesse período também que passou a colaborar com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e passou a atuar no setor de Direitos Humanos. Tio Mauro, ex-pessoa em situação de rua da capital de São Paulo, recorda: “Lembro-me da Irmã Alberta e da Irmã Nelsy que se colocaram entre nós e a polícia em uma ocupação violenta em 2003. Aquelas fabulosas irmãs diziam que, para nos repelir, a polícia deveria primeiro passar por cima delas. Heroínas! Agora, graças a ela, vivo com minha família na aldeia da reforma agraria dedicada a Tomas Balduíno, cultivo meu campo e confio no futuro dos meus filhos”, contou o agora assentado em um Assentamento de Reforma agrária ao projeto 100 Nonni.
Irmã Alberta chegou a morar em acampamento de trabalhadores rurais Sem Terra por dois anos. Hoje, no km 27 da Rodovia Anhanguera há um assentamento que leva seu nome: a Comuna da Terra Irmã Alberta, que, aliás, foi fonte de inspiração para a construção da Ocupação Rururbana Dandara, em Belo Horizonte, MG, que hoje conta com 2.500 famílias já constituindo um bairro organizado. Em diálogo com o site do projeto 100 Nonni, Irmã Alberta contou uma de suas experiências de ocupação de terra: “Ocupamos um terreno ao lado de uma penitenciária em um subúrbio da Grande São Paulo. Eu, com meu hábito de freira, estava diante da polícia ao lado de um advogado chamado Bruno. Um capitão da polícia me perguntou o que estava fazendo naquele lugar. 'O meu dever', respondi. Eu também cumpro meu dever, ele retrucou. Chovia muito. Eram as duas da madrugada. Os policiais estão acostumados a enfrentar a violência com violência. Uma mãe tinha duas crianças no colo. Peguei uma delas e avancei! Um policial me fez cair com a criancinha. Nos empurravam até o asfalto e depois iam embora. Nós voltávamos imediatamente. Era terra livre, do governo, mas os guardas da prisão haviam se apossado dela para criar ovelhas e cavalos. Diziam que a terra era deles. Chamaram de novo a Polícia Militar que nos empurrou pela segunda vez. Então voltamos no dia seguinte com o dobro de famílias. Começamos a construir as barracas típicas dos sem-terra, usando grandes sacos de plástico preto sobre uma armação de madeira, com redes para dormir. Resistimos, recuamos, voltamos outras vezes… Nunca desistimos. Por fim conseguimos obter a residência provisória. Hoje, muitos anos depois, lá pode ser encontrado um assentamento com 70 famílias, 400 pessoas, com lotes de 3 a 4 hectares para cada núcleo familiar, morando em casas de alvenaria feitas no regime de mutirão. Cultivam acerola, caqui, abacate, laranjas, bananas… Aqueles camponeses são todos meus irmãos”.
Irmã Alberta nunca esqueceu sua origem: “Quando eu tinha uns oito anos, a Itália já estava sob o fascismo de Benito Mussolini. Era um regime cruel e meu pai era contra. Vivia meio escondido, mas sempre na luta. Isso ficou gravado na minha memória e me fez ter muita admiração por ele.”
Um ano antes de partir para a eternidade, Irmã Alberta disse em entrevista à Revista Família Cristã[1]: “Minha missão foi cumprida. Se pudesse voltar atrás, voltaria a viver e lutar ao lado dos sem-terra. A vida com eles resume um pouco a minha vida de missão.” Parafraseando Bertold Brecht, dizemos: "Há mulheres que lutam um dia e são boas, há outras que lutam um ano e são melhores, há as que lutam muitos anos e são muito boas. Mas há as que lutam toda a vida e são imprescindíveis. Irmã Alberta foi e continuará sendo imprescindível em nós, na luta!"
Obrigado, Irmã Alberta Girardi. Além de partilhar vida em plenitude, você continuará viva em nós na luta. Irmã Alberta, presente sempre na luta!

Por frei Gilvander Moreira, da CPT/MG.

Belo Horizonte, MG, 30/1/22018.


sábado, 29 de dezembro de 2018

Natal passa pelo respeito ao direito à moradia/Ocupação Vila da Conquist...



Natal passa pelo respeito ao direito à moradia/Ocupação Vila da Conquista, em Belo Horizonte/MG/Vídeo 2 - 23/12/2018.

No dia 23 de dezembro de 2018, coordenação do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e apoiadores estiveram na Ocupação-Comunidade Vila da Conquista, em Belo Horizonte, para entrega de presentes de Natal às crianças, pelo MLB. A alegria nos rostos e o brilho no olhar das crianças misturaram-se também à expressão de preocupação das 100 famílias que constituem a Ocupação-Comunidade Vila da Conquista. Está marcada para o dia 05 de fevereiro de 2019, no CEJUS (Centro Judiciário de Solução de Conflitos), do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Audiência de tentativa de conciliação com o suposto proprietário do terreno. Localizada no bairro ventosa, na capital mineira, a Ocupação, que já existe há quase 4 anos, mudou a paisagem de um terreno totalmente abandonado, sem cumprir função social; muito pelo contrário, era um terreno que servia de depósito de lixão, descarte, de proliferação de mosquitos, insetos, cobras venenosas, colocando em risco a vida da população no entorno do terreno. Hoje, a Ocupação-Comunidade Vila da Conquista é uma Ocupação fortemente consolidada, já com uma rua asfaltada, com casas de alvenaria, serviço de correios, ligação legalizada de água e energia em algumas casas. Há toda uma movimentação de fortalecimento e organização constante da Comunidade de forma coletiva e bem estruturada, com o devido planejamento, sendo acompanhada pelo MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) e por uma grande Rede de Apoio. É inadmissível o despejo das 100 famílias da Ocupação-Comunidade Vila da Conquista, que ali investiram e investem tudo o que tinham e têm, como a única alternativa de libertação da injusta e pesada cruz do aluguel e da especulação imobiliária. A disposição é de luta e resistência para que seja garantido o sagrado direito à moradia digna. O verdadeiro Natal passa pelo respeito à dignidade humana, que se concretiza a partir da moradia digna para todas e todos. É esse olhar que se espera do Poder Judiciário: de humanidade, de bom senso e, sobretudo, de justiça.

Foto: frei Gilvander

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 23/12/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.


Ocupação Vila da Conquista consolidada, em BH/MG: Despejo, nunca!/Vídeo ...



Ocupação Vila da Conquista consolidada, em Belo Horizonte/MG: Despejo, nunca!/Vídeo 1. 23/12/2018.

Em Belo Horizonte, MG, no bairro Ventosa, região oeste, cerca de 100 famílias, para se libertarem da pesadíssima e insuportável cruz do aluguel e da especulação imobiliária, se uniram, há quase 4 anos, e se organizaram na Ocupação-Comunidade Vila da Conquista, acompanhada pelo MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) e pela CPT (Comissão Pastoral da Terra). O terreno estava totalmente abandonado, servindo de depósito de lixão, descartes diversos, criadouro de animais peçonhentos, de mosquitos, colocando em risco a saúde da população em torno do terreno. Hoje, a paisagem é totalmente diferente, com a Ocupação-Comunidade Vila da Conquista fortemente consolidada, com uma rua já asfaltada, com ruas planejadas, sem becos, casas de alvenaria - várias delas com ligação de água e energia legalizadas -, serviço de correio. Apesar de toda essa organização e fortalecimento, os moradores e as moradoras estão apreensivos diante do agendamento de uma Audiência de conciliação para o dia 05 de fevereiro/ 2019, no CEJUS (Centro Judiciário de Solução de Conflitos), do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), com o suposto proprietário que, depois de alguns anos, apareceu reivindicando a propriedade. Alegou-se há algum tempo, via Defesa Civil de Belo Horizonte, que as famílias estavam em área de risco e, por isso, deveriam ser despejadas. Entretanto, laudo imparcial e bastante detalhado do geólogo Dr. Carlos von Sperling Gieseke mostrou que não havia (e não há) risco na área ocupada. Agora, aparece um suposto proprietário do terreno. As famílias, o MLB, a CPT e toda a Rede de Apoio clamam por bom senso e justiça do Poder Judiciário, e posicionam-se em luta e resistência para garantir a permanência das famílias na área que já se constituiu uma Comunidade, bem estruturada, com a Ocupação bastante consolidada. O justo e ético é que seja respeitado o princípio da dignidade humana e do direito à moradia às famílias da Ocupação-Comunidade Vila da Conquista. Nesse vídeo, uma visão geral da Ocupação-Comunidade Vila da Conquista, com depoimentos de moradores e do Dr. Carlos von Sperling, no dia 23 de dezembro/2018, quando a coordenação e militantes do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), a CPT e apoiadores estiveram na Comunidade para distribuição de presentes de Natal às crianças, pelo MLB.

Foto: frei Gilvander

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 23/12/2018.
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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Urgente! Ocupação dos/as Carroceiros/as do Barreiro em Belo Horizonte ameaçada de despejo: presente de natal do prefeito Alexandre Kalil.


 Urgente! Ocupação dos/as Carroceiros/as do Barreiro em Belo Horizonte ameaçada de despejo: presente de natal do prefeito Alexandre Kalil.

Ocupação dos/as Carroceiros/as no Barreiro, em Belo Horizonte,
MG, ameaçada de despejo por laudo tendencioso da Defesa
Civil da Prefeitura de Belo Horizonte. Fotos: A. Matarazu.
“Moradias na área da Ocupação dos\as Carroceiros\as.
Não foi observado, ou melhor não existe, qualquer
comprometimento das estruturas das moradias e nem
 indícios do solo de qualquer movimentação”
(Geólogo Dr. Carlos von Sperling Gieseke, dia 25\12\2018.)


A Ocupação dos Carroceiros e das Carroceiras, localizada na rua das Petúnias,2841, abaixo da linha do trem (Antiga Av. das Camélias, Rua Aderbal Rodrigues Vaz), no bairro Tirol, região do Barreiro, em Belo Horizonte, MG, está ameaçada de ser despejada no dia 27 de dezembro de 2018, às 6 horas da manhã, após a Defesa Civil de Belo Horizonte apresentar laudo tendencioso que diz que a ocupação está localizada em área de risco, induzindo o Poder Judiciário a erro. É também desatualizado o laudo da Defesa Civil.
A Ocupação dos Carroceiros e das Carroceiras do Barreiro surgiu há cerca de 5 (cinco) anos em área abandonada que não cumpria função social. Próximo ao terreno da Ocupação, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) está realizando obras para a construção de bacia de contenção de águas da chuva e, ao invés de tentar reassentar previamente e com dignidade as dez famílias que ali residem em moradias dignas de alvenaria, a Prefeitura entrou no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), na 3ª Vara de Fazenda Pública Municipal com pedido de despejo forçado das famílias, com uso de força policial.
Mesmo com base em um laudo tendencioso e desatualizado, infelizmente o Juízo da 3ª Vara de Fazenda Pública Municipal acatou os argumentos da PBH e determinou o imediato despejo das famílias sem qualquer alternativa prévia e digna para as 10 (dez) famílias de carroceiros e carroceiras que ali estabeleceram suas moradias.
Vale mais uma vez lembrar que infelizmente a situação de falta de política pública de habitação de interesse social na capital mineira persiste, com um gigante déficit habitacional crescente de 150 mil moradias,  sendo que o prefeito Alexandre Kalil (do PHS) foi eleito com os votos de milhares de moradores e moradoras das ocupações urbanas de Belo Horizonte. Kalil prometeu durante a campanha eleitoral que não faria despejo em ocupações já existentes.
Após o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) abraçarem a luta das famílias da Ocupação dos/as Carroceiros/as do Barreiro, a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais (DPE/MG) recorreu da decisão do Juízo da 3ª Vara de Fazenda Pública Municipal, e mediante a apresentação das inúmeras ilegalidades praticadas pela PBH, conquistou decisão liminar da Desembargadora Hilda Teixeira, que suspendeu qualquer despejo até que ela e outros dois desembargadores se reunissem, em segunda instância, para julgar em definitivo o recurso apresentado pela Defensoria Pública.
Ocorre que mais uma vez a Defesa Civil de Belo Horizonte (que deveria ser chamada de Ataque Civil-Militar, já que este órgão público municipal novamente  tenta despejar injustamente uma ocupação urbana), além de estar este órgão coordenado por militar, o que tem sido um traço corriqueiro da atual crise que nosso país vive, onde muitos militares, em vez de estarem na caserna, estão adentrando aos órgãos da administração pública, elaborou laudo tendencioso com informações inverídicas e a PBH o apresentou à Desembargadora, que, induzida a erro por tal laudo que diz que a ocupação é área de risco, reconsiderou sua decisão anterior e determinou o imediato despejo das famílias.
Entretanto, o geólogo imparcial Dr. Carlos von Sperling Gieseke esteve na manhã de hoje, dia de Natal, dia 25 de dezembro, na comunidade e, após vistoriar o terreno e as casas, afirmou categoricamente que a comunidade não está localizada em área de risco. Importante destacar que esta situação de um órgão de Defesa Civil elaborar laudo tendencioso é muito similar ao que a Defesa Civil de Belo Horizonte fez com a Ocupação Vila da Conquista, no Ventosa, ao fim do ano de 2017 e o que a Defesa Civil da cidade de Betim, MG, fez com a Ocupação Dom Tomás Balduíno, no fim do ano de 2016. Em ambos os casos, conseguimos demonstrar que os laudos feitos pelas Defesas Civis de Belo Horizonte e Betim eram mentirosos e conseguimos impedir os despejos. Ao analisar o laudo da Defesa Civil da PBH, o geólogo Dr. Carlos von Sperling Gieseke concluiu que onde a Defesa Civil alegou haver risco é outra área distante de onde estão as casas da Ocupação dos/as Carroceiros/as.
Consideramos um ataque gravíssimo o que a Prefeitura de Belo Horizonte está fazendo por meio de sua Defesa Civil e de sua Procuradoria Geral, pois querem retirar famílias humildes de suas casas com base em mentiras e, ainda mais, no período natalino! E pior, sem reassentamento prévio digno. Cumpre lembrar que a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da ONU, assegura a todos os Povos Tradicionais o direito de se autodefinir como Povo Tradicional e o direito de ter todos seus direitos assegurados pelo Estado. Os carroceiros e carroceiras são Povo e Comunidade Tradicional e, por isso também, merecem respeito aos seus direitos.
Um oficial de (in)justiça esteve na comunidade dos/as carroceiros/as no último sábado, dia 22 de dezembro de 2018 e, com Mandado de Reintegração de Posse na mão, informou que o despejo está determinado para o dia 27 de dezembro, a partir das 6 horas da manhã.   Este grave e preocupante comunicado  tirou o sono de todas as pessoas da comunidade. No Mandado de Despejo consta que o juiz arbitrou multa de 300 mil reais por dia até 90 dias para a Polícia Militar de MG, caso não cumpra a ordem judicial. Absurda essa multa. Por que não multar o Estado pela falta de política pública de moradia para todas as famílias sem-casa? E quem arcará com os prejuízos que o despejo causará às dez famílias se elas foram jogadas na rua? Por isso mesmo tivemos que dedicar nosso dia de Natal, em especial o geólogo Dr. Carlos von Sperling, para visitar a comunidade a fim de averiguar se a comunidade estava ou não em área de risco e fazer um laudo geológico que embasará novo recurso judicial da Defensoria Pública de MG, em regime de plantão.
Além de várias nulidades e ilegalidades no processo, a Defensoria Pública de Minas Gerais afirmou em Embargos de Declaração: “Curioso que o laudo da Defesa Civil foi produzido em agosto/2018 e, com base nele, o Município requereu a concessão da tutela recursal porquanto se avizinhavam chuvas na capital, fato que poderia gerar desabamento das casas e morte das pessoas que lá residem. É certo, portanto, que o mês de novembro foi um mês de intensa chuva na capital, com outras tragédias pela cidade, mas não houve movimentação de nem um centímetro sequer de terra na localidade objeto da ação, o que demonstra que o citado “risco” não existe”.
O Prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, cada dia que passa mostra mais a sua verdadeira face, já que ele nunca nos enganou., Como já dissemos à época da eleição de 2016, Kalil está se comportando como os políticos profissionais antipovo. Não é à toa que Kalil quer aumentar a passagem de ônibus para R$4,50, não fez auditoria do sistema de ônibus com participação popular, já mandou a Guarda Municipal despejar ocupações e manda reprimir a população em situação de rua na área central da cidade.

“Vista Geral da área de ocupação dos\as Carroceiros\as –
margem esquerda do córrego Camarão – observar inexistência
de obras referentes a futura bacia de retenção da Prefeitura”
(Geólogo Dr. Carlos von Sperling Gieseke). As casas
das famílias carroceiras estão longe da área
onde pode haver algum risco geológico.

Exigimos que esse despejo não seja realizado e que as verdadeiras autoridades públicas impeçam uma tragédia, com famílias de trabalhadores humildes jogadas na rua, ao relento, na exclusão! Despejar é inadmissível. Junto com o menino Deus nascido em uma ocupação na periferia da cidadezinha de Belém, clamamos por respeito à dignidade humana de todas as pessoas das dez famílias da Ocupação dos/as Carroceiros/as. Os/as carroceiros/as, como os pastores de Belém, cuidam da cidade contribuindo na limpeza urbana, no combate à dengue e gerando renda para sustentar suas famílias. “BH é uma Roça Grande e nossa vida é na carroça!”, bradam os/as carroceiros/as! E exigem respeito.
  Enquanto morar for um privilégio, ocupar e resistir é um direito e um dever!
 Resistam, carroceiros e carroceiras do Barreiro!
 Não cometa essa injustiça, Kalil!
Pare de fazer laudos mentirosos, Defesa Civil da PBH!
TJMG, esperamos que a decisão errada seja corrigida em nome da justiça e da ética.
Belo Horizonte/MG, 25 de dezembro, Natal de 2018.

Assinam esta Nota:
Coordenação da Ocupação dos Carroceiros e das Carroceiras do Barreiro
Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG)
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)
Kaipora - Laboratório de Estudos Bioculturais da UEMG.

Obs.: Abaixo, fotos panorâmicas que demonstram que as casas das famílias carroceiras não estão em área de risco.

“Casas dos carroceiros estão em local que não é área de risco”, afirma em laudo o geólogo imparcial Dr. Carlos von Sperling.

As fotos demonstram que as casas da Ocupação dos Carroceiros/as não estão em área de risco. Estão longe de onde a Defesa Civil da PBH alegou em agosto de 2018 haver risco.

As fotos acima, também demonstram que não há o menor risco geológico no terreno onde estão as casas das famílias carroceiras. Não estão na beira de barranco. “Não percebi nenhuma trinca nas casas e nem no solo que, aliás, não é inclinado”, afirma o geólogo Dr. Carlos von Sperling Gieseke.

“Acima, local onde são acomodados os cavalos dos carroceiros . Não há qualquer moradia neste local. Não há qualquer comprometimento da estabilidade dos taludes nem erosão” (Geólogo Dr. Carlos von sperling Gieseke, dia 25/12/2018). Como poder ter risco geológico em terreno plano assim? 

Visão panorâmica de casas da Ocupação dos carroceiros e das carroceiras, no Lindeia, em BH. Estão sob risco do Estado que não quer mais as famílias no local e para retirá-las alega risco geológico, o que não há.





terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Natal na Ocupação Esperança, na Izidora/BH/MG. Almoço Comunitário: A for...



Natal na Ocupação Esperança, na Izidora, em Belo Horizonte/MG - Almoço Comunitário: A força do amor. 23/12/2018.

Na Ocupação-Comunidade Esperança, região da Izidora, em Belo Horizonte, Minas Gerais, a força do amor uniu moradores e apoiadores para a realização de um almoço comunitário de Natal, no sábado, 23 de dezembro de 2018. Na partilha, na solidariedade, na confraternização, a celebração do Menino Deus nascido ali, entre os pobres e oprimidos pelo poder e pela exploração do capital e dos capitalistas. E é bem ali também que ecoa a voz revolucionária de esperança na luta e na resistência de todos os dias, testemunhando de forma concreta a presença de Jesus de Nazaré, que veio para que todas e todos tenham vida e a tenham em abundância (João 10,10). Após o almoço, a distribuição dos brinquedos às crianças saudou o Menino Jesus presente em cada uma delas, lembrando que têm direito a uma infância feliz, com todos os direitos e dignidade respeitados. Uma verdadeira Festa da Vida aconteceu na Ocupação-Comunidade Esperança, umas das quatro ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança, Vitória e Helena Greco)! Luta fortalecida no amor em movimento!

Natal na Ocupação Esperança, na Izidora, em
Belo Horizonte, dia 23/12/2018. Foto: Frei Gilvander.

*Filmagem de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 23/12/2018.
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segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Terra, mãe libertadora! Quilombo Campo Grande/Campo do Meio/MG. Vídeo 7 ...



Terra, mãe libertadora! Quilombo Campo Grande/Campo do Meio/MG. Vídeo 7 - 26/11/2018.

Visitar os Acampamentos que integram o Quilombo Campo Grande (11 Acampamentos do MST) em Campo do Meio, sul de Minas Gerais, é fazer uma viagem por caminhos de trabalho, resistência e muita luta pelo direito à terra. A terra, abandonada em 1996, pela Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo ( CAPIA) da antiga Usina Ariadnópolis, massa falida, e sem cumprir função social, foi ocupada por 450 famílias; a maioria de trabalhadoras e trabalhadores da Usina que ficaram sem receber seus salários e suas indenizações. Só as dívidas trabalhistas da empresa ultrapassam os 300 milhões de reais. Nos 3.900 hectares ocupados, mais de 2 mil trabalhadores fazem a terra produzir de forma agroecológica, com responsabilidade social e ambiental. A história dessa gente é uma verdadeira história de libertação. Em uma região em que a escravidão deixou suas tristes e dolorosas marcas, a luta pela terra tem a ver com liberdade, dignidade, cidadania, justiça social e paz. Nesse vídeo, a riqueza do depoimento do Sr. Amâncio, do Assentamento Primeiro do Sul, na ex-fazenda Jatobá, ao lado do Quilombo Campo Grande. Nascido e criado nas terras do grande latifúndio da massa falida da antiga Usina Ariadnópolis, Sr. Amâncio fala dos detalhes de toda uma trajetória de luta e resistência de um povo que vê na terra a Mãe Libertadora que lhes garante a força, a ternura e o sustento da vida.

Sr. Amâncio, Sem Terra assentado no Assentamento 
Primeiro do Sul, em Campo do Meio, no sul de MG. 
Foto: frei Gilvander

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Campo do Meio/MG, 26/11/2018.
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Sr. Mozar no Quilombo Campo Grande/MST/MG: "Sem a terra ele não vive!" ...





Sr. Mozar do Quilombo Campo Grande, do MST, em Campo do Meio, sul de MG: Vida que depende da terra – Vídeo 6 – 26/11/2018.

No Acampamento Fome Zero, um dos 11 Acampamentos que integram o Quilombo Campo Grande, no grande latifúndio da massa falida da antiga Usina Ariadnópolis, em Campo do Meio, sul de Minas Gerais, uma cena chama a atenção em meio a tantas outras cenas de luta e trabalho na terra: o Sr. Mozar Oliveira de Andrade, 71 anos, com sua pequena enxada, trabalhando na lavoura de feijão. O diferencial está na determinação do Sr. Mozar, na sua capacidade de superação. Vereador por três mandatos em Campo do Meio, sempre lutando em defesa do bem comum, Sr. Mozar travou uma grande luta contra o câncer. Como sequelas, a amputação de uma perna e a perda da voz. Hoje, fala quase incompreensível com a ajuda de um aparelho. Contudo, sua resiliência diante das limitações foi mais forte e diariamente, lá está o Sr. Mozar, em uma das lavouras de feijão, no Acampamento Fome Zero, do Quilombo Campo Grande, com sua enxada de cabo curto, na capina, na colheita, com coragem, esforço e alegria. Para o Sr. Mozar terra é sinônimo de vida. Seu suor rega a terra, a terra sustenta seu corpo e dá vida sempre renovada à sua vida de luta. No Sr. Mozar, uma grande lição de vida e a expressão fiel da resistência de um povo que há mais de 20 anos ocupa essas terras que, abandonadas, não cumpriam função social e hoje, pela força do trabalho de 450 famílias, mais de 2 mil camponeses e camponesas, trabalhadoras e trabalhadores rurais, produz alimentos saudáveis, orgânicos, sem agrotóxicos, gera renda, cidadania, garante vida e vida com dignidade. Pelo Sr. Mozar e por todos os trabalhadores e trabalhadoras do Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, Minas Gerais, DESPEJO, NÃO! DIREITO À PERMANÊNCIA DEFINITIVA NA TERRA, SIM!
*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Campo do Meio/MG, 26/11/2018.
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domingo, 23 de dezembro de 2018

Natal de Jesus Cristo na periferia de Belém: “Não tenham medo!”


Natal de Jesus Cristo na periferia de Belém: “Não tenham medo!”
Por Gilvander Moreira[1]

Reprodução: Cartão de Natal do artista Banksy: muro
de Israel no caminho da Sagrada Família.

É tempo de natal e de virada de ano. Sob a avalanche do natal do mercado idolatrado, necessário se faz resgatar o sentido bíblico do Natal de Jesus Cristo, que é revolucionário. Faz bem entendermos a narrativa bíblica do Evangelho de Lucas (Lc 2,1-20) que versa sobre o nascimento do galileu que se tornou Cristo, que testemunhou um jeito de conviver libertador e salvador. O Evangelho de Lucas não é crônica jornalística escrita sob o calor dos fatos. Escrito na década de 80 do século I da era cristã, o Evangelho de Lucas é Teologia da História a partir dos oprimidos e injustiçados e da sua fé na ressurreição de Jesus Cristo. Que beleza que os opressores não exterminaram o movimento popular e religioso de Jesus! Fizeram uma grande sexta-feira da paixão, mas as discípulas e os discípulos de Jesus Cristo, experimentando que Ele vivia nelas e neles, construíram um domingo de ressurreição com pão, terra e liberdade para todos/as. Em algum lugar, nas periferias  do mundo, do ventre de uma mulher, uma criança quer vir à luz... Uma estrela aponta para um cantinho, em um pedacinho de chão... "Olha a glória de Deus brilhando!" Não morre a utopia da vida vencendo a morte, do amor vencendo o ódio e da justiça sobressaindo sobre a injustiça. Para o evangelista Lucas foram os pastores – os trabalhadores mais discriminados da época - os que, por primeiro, reconheceram a encarnação do divino no humano. Quando nasceu Jesus Cristo? Onde? Em que contexto? Na presença de quem? E foi visitado e acolhido por quem?
Jesus nasceu em tempos de imperialismo romano com o imperador Augusto baixando decreto para aumentar o peso da tributação nas costas do povo, além de manter a superexploração, por meio da escravidão, a quem eram submetidos mais de 60 milhões de pessoas nas muitas colônias do Império Romano. Diz o evangelista Lucas: “Naqueles dias, o imperador Augusto publicou um decreto ordenando recenseamento em todo o império” (Lc 2,1). Como o pai de Jesus, José, era descendente de Davi e natural de Belém, ele teve que viajar da cidadezinha de Nazaré, na Galileia, até Belém, na Judeia, mais de 120 quilômetros, a pé ou montando em jumento, com sua esposa Maria que estava na iminência de dar à luz (Lc 2,3-5). Em uma colônia dominada pelo imperialismo romano, por governadores submissos aos interesses imperiais e com a cumplicidade de um poder religioso – o sinédrio – que usava o nome de Deus para excluir e marginalizar a maioria do povo, como trecheiro, estradeiro, “irmão de rua”, migrante, retirante, sem-terra, sem-teto, refugiado, migrante e judeu da periferia, nasceu Jesus Cristo na periferia de Belém, pequena cidade do interior. Jesus não nasceu em Jerusalém nem na capital do império, nem em Brasília, nem na Avenida Paulista e nem nos Estados Unidos. Maria e José tiveram que ocupar um curral, porque não encontraram hospedagem em Belém, certamente porque não tinham como pagar hotel nem hospital particular. Ao descrever o nascimento de Jesus, o evangelista Lucas estabelece estreito paralelismo com a morte e ressurreição do Messias. De fato, em Lc 2,7a se diz que “Maria enfaixou Jesus e o colocou na manjedoura”; em Lc 23,53a afirma-se que “José de Arimateia enfaixou o corpo de Jesus e o colocou em um sepulcro”. Ou seja, o evangelista aponta que a missão de Jesus será espinhosa, terá que enfrentar a violência de podres poderes e de opressores e, por isso, será condenado à pena de morte, mas ressuscitará.
Jesus nasce no meio dos pastores (Lc 2,8), os injustiçados e execrados pela classe dominante onde estão os senhores “de bens” que por cumplicidade reproduzem a desigualdade social. Entre todos os segmentos da classe trabalhadora e camponesa, os pastores e as pastoras eram os/as mais explorados/as, considerados/as impuros/as, principalmente porque não respeitavam as propriedades privatizadas. Para os pastores e pastoras, o território era um bem comum e, por isso, levavam os rebanhos que cuidavam para pastar em outras propriedades. Assim eram considerados invasores de propriedades privadas. Para os pastores e as pastoras, “Terra de Deus, terra de irmãos!”.
Um anjo de Deus apareceu aos pastores” (Lc 2,9), não apareceu ao imperador, nem ao governador, nem a nenhum sacerdote e nem a nenhuma pessoa considerada pura, integrada à sociedade dos “de bens”. São esses pastores e pastoras que reconhecem o nascimento do menino Deus e vêm ao encontro daquele que iria testemunhar um caminho de libertação para todos/as e tudo, a utopia “vida e liberdade para todos/as e tudo” (Jo 10,10).
Nos Evangelhos de Lucas e de Mateus, o nascimento de Jesus não é apresentado de forma neutra diante das contradições e desigualdades sociais. José, Maria, Jesus, os evangelistas e as primeiras comunidades cristãs (autoras dos Evangelhos) têm lado: o lado dos oprimidos e injustiçados. A luz divina foi experimentada pelos pastores e pastoras, em uma noite escura (Lc 2,8-9), – como a noite que se abateu sobre o povo brasileiro com a ascensão do fascismo e de um capitalismo ultraliberal. A luz e a força divina surgiram para aqueles e aquelas que eram os/as mais rejeitados/as pela sociedade hipócrita e cínica. Nas primeiras comunidades cristãs se lia naquela época o texto do profeta Isaías que dizia: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria” (Is 9,1). A primeira mensagem do anjo aos pastores e pastoras foi: “Não tenham medo! Eis uma ótima notícia para todo o povo explorado. Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2,10). Essa mensagem ganha eloquência se recordarmos que quando se elevava um novo imperador ou rei, arautos do império anunciavam a entronização aclamando o que estava sendo entronizado como novo Salvador (soter, em grego) e Senhor (Kurios, em grego).
As primeiras comunidades cristãs fazem uma revolução copernicana e subvertem a ideologia dominante que divinizava o poder e quem estava no poder. ‘Salvador’ e ‘Senhor’ não será mais o imperador e nenhum rei. ‘Salvador’ e ‘Senhor’ será aquela criança que nasceu no meio dos explorados. O anjo alerta: só quem consegue se misturar com os periféricos e com eles conviver consegue experimentar o divino se revelando no humano a partir dos porões da humanidade (Lc 2,12). Quem fica distante dos empobrecidos e empobrecidas acumula preconceitos e se desumaniza. Diz o evangelista Lucas que os anjos fazem festa ao experimentar a glória de Deus e a paz (shalom, em hebraico) no meio do povo (Lc 2,14). A glória de Deus brilha quando o humano em todas as pessoas é respeitado e valorizado. Paz como fruto da justiça, shalom acontece quando os governos com organização popular efetuam mudanças estruturais para superar a desigualdade social e promover a justiça social com respeito à imensa diversidade cultural, aos direitos da natureza, dos animais e toda a biodiversidade existente no nosso país e no mundo. “Os pastores da região foram a Belém, às pressas, participar do acontecimento” (Lc 2,15-16); não foram a Jerusalém, nem a Brasília, nem às catedrais do deus mercado e nem ao Império do capital. “E todos que ouviam os pastores ficaram maravilhados” (Lc 2,18). Quem não ouve, não respeita e nem participa da luta dos/as sem-terra, dos/as sem-teto, dos/as migrantes, dos/as refugiados/as, dos irmãos e irmãs em situação de rua, dos/as indígenas, dos/as quilombolas, das mulheres e dos nossos irmãos e irmãs LGBTTQIs[2] não conseguem compreender o divino se tornando humano a partir de Jesus Cristo.
Os pastores e as pastoras reconhecem o poder popular nascido na periferia de Belém, cidade do rei e pastor Davi. “É de ti Belém, a menor entre todas as cidades, que virá o Salvador” (Miq 5,1), bradava a profecia inspiradora de Miqueias.  Etimologicamente Belém (Betlehem, em hebraico), significa Casa do Pão. Belém é a cidade de Davi, o menor entre os irmãos, aquele que organizou os injustiçados da sociedade para lutar por um governo justo, popular e democrático. O verdadeiro “rei dos judeus” não é violento e sanguinário como Herodes, é um recém-nascido, nascido sem-terra e sem-casa e tendo que se exilar às pressas, como refugiado, para não ser assassinado pelo poder repressor de plantão. Segundo o Evangelho de João, o nascido na “Casa do Pão” se tornou Pão da Vida para todos/as (Jo 6,35-59). Os pastores e as pastoras intuem com sabedoria que o poder alternativo, democrático, participativo e popular vem da periferia, dos injustiçados, dos pequenos.
O natal trombeteado aos quatro ventos pelos arautos do mercado idolatrado é um antinatal, abusa do nascimento de Jesus Cristo para auferir lucro e acumular capital, promovendo gastança, viagens que resultam em centenas de mortes e comilanças; pior, humilham milhões de pessoas que não podem gastar, viajar e nem promover comilanças. Quem não se alia à luta por direitos de sessenta por cento dos brasileiros que sobrevivem com menos de um salário mínimo por mês não consegue vivenciar o sentido sublime e profundo do Natal de Jesus Cristo, está sendo mentiroso/a, pois não está abraçando o projeto de Jesus, o Cristo libertador e salvador.
Não está em sintonia com o Natal de Jesus Cristo quem reproduz, direta ou indiretamente, uma das maiores desigualdades sociais do mundo: 1% mais rico, que abrange 1,2 milhão de brasileiros, com rendimento médio superior a 55 mil reais por mês, no Brasil, em 2018. Quem é discípulo/a do menino que nasceu como refugiado na periferia de Belém precisa insurgir ao lado de toda a classe trabalhadora e camponesa e das forças vivas que lutam pela superação de todas as injustiças. Ouçamos os/as anjos/as que nos dizem: “Não tenham medo!” Os poderosos têm pés de barro. O menino Deus está vivo em nós na luta por justiça social, justiça agrária, justiça ambiental, justiça urbana, direitos humanos fundamentais.
Belo Horizonte, MG, 23/12/2018.



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queers e Pessoas Intersex.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Função social para a terra nos 11 Acampamentos do MST/Campo do Meio/sul ...





Função social para a terra nos 11 Acampamentos do MST, em Campo do Meio, no sul de MG – Vídeo 5 - 26/11/2018.

Nos rostos as marcas da luta traduzidas na alegria de tantas felizes iniciativas de bons resultados misturam-se às marcas de preocupação pelo despejo anunciado e, por ora, suspenso. Nas mãos calejadas os sinais do trabalho diário na terra, de forma consciente, com responsabilidade social e ecológica. Da terra vem a resposta generosa com grande produção, de qualidade, saudável a alimentar as 450 famílias que integram o Quilombo Campo Grande (11 Acampamentos do MST), no grande latifúndio de Ariadnópolis, em Campo do Meio, sul de Minas Gerais, gerando emprego, renda, dignidade e cidadania a mais de 2.000 camponeses e camponesas, trabalhadores e trabalhadoras rurais que cuidam da terra e a fazem produzir. Além disso, a produção agroecológica, orgânica do Quilombo Campo Grande faz circular a economia na cidade de Campo do Meio e região e abastece também feiras e festivais realizados pelo MST em Minas Gerais e em São Paulo. Nesse vídeo, a beleza das imagens do trabalho desenvolvido no Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, MG com o depoimento de trabalhadores sobre sua luta diária, sua pertença à terra, alguns desde o nascimento, e o porquê de não poder se aceitar a injustiça e a arbitrariedade de uma ação de despejo. Nas terras abandonadas em 1996, com a falência da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (CAPIA), empresa responsável pela Usina Ariadnópolis, mais de 2 mil trabalhadores e trabalhadoras puseram-se a serviço e deram a essas terras uma função social. E é ali, nessas terras da massa falida da antiga Usina Ariadnópolis que vivem, trabalham, produzem as 450 famílias do Quilombo Campo Grande, e é onde devem permanecer definitivamente, com todos seus direitos legitimados.
*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Campo do Meio/MG, 26/11/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

Reflorestamento e Produção no Quilombo Campo Grande, do MST/MG - Vídeo 4...




Reflorestamento e Produção no Quilombo Campo Grande, do MST/MG - Vídeo 4 - 25/11/2018.

Matuzalém e Fátima, Sem Terra do Acampamento
Vitória da Conquista, um dos 11 Acampamentos
do Quilombo Campo Grande em Campo do Meio, sul de MG.
Foto: frei Gilvander

Há mais de 20 anos, camponeses e camponesas, trabalhadoras e trabalhadores rurais, ocuparam as terras abandonadas da massa falida da antiga Usina Ariadnópolis, administrada pela Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (CAPIA). Desde então, a paisagem dos 3.900 hectares de terra mudou. Onde estava tudo desmatado, sem vida, fez-se o reflorestamento e iniciou o cultivo de alimentos diversos e a criação de muitos tipos de animais. Com produção agroecológica, orgânica, as 450 famílias que integram o Quilombo Campo Grande (11 Acampamentos do MST), em Campo do Meio, sul de Minas Gerais, se sustentam com dignidade, fazem circular a economia na cidade de Campo do Meio e região e ainda abastecem as feiras e festivais do MST realizados em Minas Gerais e em São Paulo. Nesse vídeo, o depoimento de trabalhadores e trabalhadoras, que falam com orgulho do seu trabalho na terra, da produção alcançada e falam também da sua preocupação com o despejo determinado por Juiz da Vara Agrária do TJMG e suspenso por decisão do desembargador Marcos Henrique Caldeira Brant, em 30 de novembro passado (2018).
*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Campo do Meio/MG, 25/11/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.